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Glossário Comentado por Luís Dantas

Atualizado ou corrigido pela última vez em 03 de Fevereiro de 1999

Aviso: o conteúdo desta classificação de religiões e deste glossário é representativo de minhas opiniões sobre o assunto. Como tal, é também, definitivamente, imperfeito, incompleto, questionável e quase certamente injusto em algum ponto.

Optei por ser sincero em vez de politicamente correto, mesmo que essa atitude possa trazer desconforto. Críticas e correções são bem-vindas pelo e-mail, e quando reconhecer essa necessidade, farei correções.


Classificação das opções de fé (outras classificações podem ser encontradas aqui, aqui e aqui)

Ateísmo
Ateísmo Fraco (ou Ateísmo Cético) (Afirmação: "Não acredito em Deus")
Ateísmo Forte (Afirmação: "Deus não existe")
Agnosticismo
Teísmo
Cristianismo (incluindo denominações semi-cristãs)
Catolicismo
Denominações Evangélicas
Adventistas
Anglicanos
Batistas
Igreja Universal do Reino de Deus
Metodistas
Presbiterianos
outros
(cortesia de GOSPEL.ORG.BR)
Mórmons
Testemunhas de Jeová
outros
Deísmo (Afirmação: "Deus existe, mas não preciso de uma Religião para compreender Sua vontade)
Humanismo Religioso
Fé Bahai
Induísmo
Islamismo / Muçulmanismo
Judaísmo
outros
Espiritismo Kardecista
Santo Daime / União do Vegetal / UDV / Oaska / Ayahuasca / Hoasca
Umbanda, Candomblé, Santeria
diversas seitas esotéricas e espiritualistas
Budismo
Taoísmo

Ateísmo
Crença em que não existe qualquer deus (ateísmo forte) ou dúvida (consciente) quanto à sua existência (ateísmo fraco ou cético).
Agnosticismo
Rejeição do ateísmo forte e do teísmo; um agnóstico não está convencido nem de que existe um Deus, nem de que não existe. No sentido mais estrito, o Agnosticismo defende que é impossível chegar a uma conclusão sobre a existência de Deus. Em ambos os sentidos, o Agnosticismo pode ser considerado uma subcategoria do Ateísmo Fraco ou Ateísmo Cético.
Budismo
Religião (ou filosofia) de origem indiana que alcançou grande influência na China e no Tibete. Mal compreendido pelas massas do Ocidente, o Budismo não é necessariamente teísta, pois algumas de suas variedades não afirmam a existência de Deus.
Ceticismo
Ciência
Cristianismo
Na verdade, uma frente não muito unida de inúras denominações que tem em comum o fato de aceitar como livros sagrados o Velho Testamento hebreu e o Novo Testamento cristão. Os Mórmons e as Testemunhas de Jeová, e muitos dos espíritas, também se consideram cristãos, embora frequentemente sejam rejeitados como tal pelas demais denominações. Numericamente, os católicos e Protestantes ou Evangélicos não podem deixar de ser mencionados.
Deísmo
Crença na existência de um Deus Criador, acompanhada da rejeição das religiões reveladas (como todas as formas de Cristianismo, Judaísmo, Muçulmanismo e Espiritismo). Tradicionalmente, inspira-se fortemente nos estudos de Thomas Paine e enfatiza o raciocínio lógico. Não deve ser confundido com Teísmo, pois é uma forma bastante específica deste.

O Deísmo é frequentemente confundido também com o Ateísmo e o Humanismo Secular, ou mesmo visto como uma etapa intermediária no caminho até o Ateísmo. Sem entrar neste mérito, acho importante lembrar que os deístas acreditam em um Deus Criador, e não costumam sentir-se confortáveis com afirmações de que isso não é verdade.

Dogma
Verdade Inquestionável.
Espiritismo

Doutrina que se pretende simultaneamente Filosofia, Ciência, Arte e Religião, o Espiritismo é frequentemente dividido em Espiritismo Kardecista (baseado nos ensinamentos de Allan Kardec, e particularmente popular no Brasil, e possivelmente em Portugal e na França) e outras formas, que segundo os kardecistas incluiriam a Umbanda e o Candomblé.

O espiritismo é uma das maiores forças religiosas no Brasil, e das que mais crescem. Possivelmente sua única concorrência séria, em termos de crescimento, são certas variantes mais agressivas das igrejas evangélicas e os movimentos carismáticos da igreja católica - movimentos que, como ele, tem um grande apelo junto a multidões em busca de conforto mais imediato e concreto, ou pelo menos de respostas mais diretas sobre os motivos para a ausência desse conforto. Aparentemente, também é popular em Portugal e na França.

De todas as religiões reveladas numericamente importantes, o Espiritismo provavelmente é a mais questionável e, proporcionalmente, mais nociva. Os textos de Allan Kardec foram desde o início moldados pela mentalidade Positivista de sua época, e até hoje, a despeito dos esforços sinceros de muitos de seus praticantes em exercitar de discernimento e boa vontade em seus cultos, a Doutrina Espírita permanece sendo um dos melhores exemplos vivos, simultaneamente, do poder do condicionamento falacioso e do poder da boa vontade humana.

A teoria espírita tem características muito nítidas. Em primeiro lugar, evidencia-se uma pretensão inabalável de ter todas as respostas. Enunciar um dogma para logo em seguida procurar demonstrar que é um "fato provado" definindo-o a partir de um outro dogma (ou mais de um) é um exercício dos mais rotineiros dentro desta fé.

Mas os fiéis são pessoas de carne e osso, quase sempre em uma busca sincera, e ainda mais frequentemente com muita boa vontade para com o semelhante. O resultado inevitável é que os espíritas (numerosos no Brasil) realizam muitas obras boas.

É difícil ignorar uma mensagem emocionalmente tão poderosa, e as falácias repetidas com tanta frequência e paixão em pouquíssimo tempo passam a ser "sentidas" como verdade. Muitos espíritas gostam de lembrar que suas crenças se baseiam em "estudos científicos", embora isso realmente nada tenha de verdade. Para um espírita típico, é muito difícil compreender que o dogma é incompatível com a ciência, e de fato a atitude de esperar pacientemente pelo dia em que os não-espíritas "evoluam a ponto de aceitar a verdade de seus ensinamentos" é muito comum e até mesmo compulsiva. Embora tenham pouco interesse real em pesquisar outras filosofias e religiões, os espíritas são muito ágeis em mostrar evidências de que "a verdade por trás" dessas outras crenças é a espírita. Para uma população em busca de respostas, o espiritismo é um verdadeiro banquete; em marcante contraste com as religiões orientais que também se apressa em "explicar", os textos espíritas, embora procurem lembrar a importância do discernimento, oferecem respostas prontas em abundância. Terreno fértil para o desenvolvimento de uma atitude de arrogância dissimulada, a crença espírita lembra aquelas pessoas que afirmam não ser racistas, "pois até tem amigos negros". O engano pode ser (e frequentemente é) inconsciente e muito sincero, mas continua sendo muito diferente da verdade.

A natureza quádupla da doutrina também é usada com bastante criatividade. Sendo "Ciência, Filosofia, Arte e Religião", o espiritismo pode ser facilmente esquivado de questionamentos; no momento em que se evidencia uma das rachaduras lógicas de sua doutrina, somos lembrados ou de que provavelmente entramos agora no domínio de um dos outros três pilares da Doutrina, ou conclamados a confiar em que a contradição é aparente, mas ilusória, pois "há uma ciência" por trás desse dogma. Ou, alternativamente, "foi a vontade" de Deus ou dos Espíritos evoluídos.

Espiritualismo
Segundo a doutrina espírita, o não-materialismo. O autor deste glossário considera essa definição inaceitavelmente tendenciosa, porque sugere que não ser materialista é o mesmo que acreditar na existência do "espiritual". Ao deixar de lado a definição clara do que seria essa "espiritualidade" que aparentemente é tudo o que não é matéria, insinua-se que não há qualquer outra opção de fé além do materialismo, o espiritismo e alguma forma de versão "incompleta" ou "desviada" do espiritismo. Essa insinuação desconsidera ou ignora a existência, por exemplo, de agnósticos, taoístas, e muitos ateístas, deístas e livres-pensadores em geral.
Existem duas definições correntes para "fé". Uma, que considero insatisfatória, pelo menos no contexto religioso, é "crença sem evidência ou prova". A outra, que aceito como válida dentro e fora dos contextos religiosos e metafísicos, é "confiança grande (ou plena) em algo". Nesta definição, um cético, ateísta ou livre-pensador pode ter (e frequentemente tem) fé em suas posições, não (necessariamente) por não ter evidências de que estejam certas, mas simplesmente porque está satisfeito (no momento; sua fé pode mudar de acordo com as circunstâncias) com as evidências e provas (mesmo que nenhuma) de que já dispõe. Por esta definição, a fé não é necessariamente arbitrária.
Filosofia
Especulação sobre a verdade e a natureza da verdade e do universo. Não é necessariamente religiosa ou metafísica, mas quase todas as opções de fé (inclusive as não-teístas) costumam se interessar bastante em argumentações filosóficas.
Humanismo Secular
Induísmo
Islamismo
Os seguidores do Islam ou (como são mais frequentemente chamados no Brasil) muçulmanos são muito associados às notícias de conflitos violentos no oriente médio, mas é importante lembrar que o Islamismo é uma religião de grande tradição e que, assim como o Cristianismo, abarca entre seus fiéis desde praticantes de atos violentos até pessoas que tem e praticam frequentemente atos de grande amor e sabedoria. Embora a opinião pública brasileira esteja basicamente ignorante desse fato (aparentemente a imprensa não o considera importante), não é nenhum segredo que o livro sagrado dos muçulmanos (o Corão ou Alcorão) tem muito em comum com a Bíblia, inclusive no sentido literal; os dois livros sagrados tem muito texto em comum e uma origem histórica parcialmente coincidente.

A imagem de incentivador da violência que o Islamismo tem no ocidente é em larga parte injusta. A religião em si é bastante antiga, mas em última análise é decisão de cada fiel quão tradicional, fundamentalista e agressivo ele quer ser. Diga-se de passagem, o mesmo vale para o Cristianismo - o conflito entre protestantes e católicos na Irlanda do Norte pode perfeitamente ser descrito como "guerra entre cristãos" sem faltar para com os fatos.

Judaísmo
Religião oficial de Israel, que reconhece o Velho Testamento cristão como livro sagrado e antecede o cristianismo por muitos séculos. Muito influente (embora minoritário) nos Estados Unidos. Pouco encontrado e muito pouco compreendido no Brasil.
Livre-pensador
Ateu, Agnóstico ou Humanista Religioso (inclusive os deístas). Todo aquele que opta por encontrar suas próprias verdades metafísicas em vez de consultar algum tipo de intermediário humano (profeta ou revelador) ou textual (evangelho ou livro sagrado).
Muçulmanismo
Veja Islamismo
Religião
Filosofia que se apóia em Dogmas. Frequentemente (mas não necessariamente) teísta.
Religião Revelada
Religião que se vale dos ensinamentos de um grupo ou indivíduo para chegar à sua verdade. Não é o mesmo que simplesmente estudar os ensinamentos desse grupo ou autor, porque parte-se do princípio de que o revelador está explicando qual é a "verdade", e nos cabe compreendé-la, sem questionar se é realmente válida. Jesus Cristo foi o revelador do Cristianismo, Joseph Smith o dos Mórmons, Maomé o do Islamismo. Embora o Deísmo fale muito dos ensinamentos de Thomas Paine, sua postura é basicamente cética - Paine é visto como um filósofo inspirado, e não como a voz da Verdade.
Seth
Taoísmo
Filosofia inspirada no Tao Te Ching de Lao Tsu. Não é tanto uma religião quanto uma filosofia. Fornece poucas respostas claras, mas encoraja muitos questionamentos saudáveis e profundos. Recomendo muito esta versão em quadrinhos do Tao Te Ching para quem quer uma maneira acessível de conhecê-lo.
Teísmo
Postura filosófica ou religiosa que afirma a existência de um (ou mais de um) Deus. O Budismo tem variantes teístas e não-teístas. O Taoísmo, até onde sei, é não-teísta. O Deísmo, bem como o Humanismo Religioso em geral, é teísta, e na verdade a crença em Deus é a única diferença (relativamente insignificante em termos práticos) entre estes e o Humanismo Secular.