Por que tantas escolas?

Uma pergunta recorrente nos fóruns budistas da Internet é, naturalmente, por que há tantas escolas diferentes. Variantes dessa pergunta incluem questionamentos quanto a qual seria a "mais correta", ou se não seria o caso de unir duas ou mais.

As respostas mais frequentes falam (corretamente) a respeito do tradicional número de 84 mil formas de transmitir o Dharma, ou sobre a necessidade e conveniência de acomodar vários tipos de alunos e vários contextos culturais.

O que talvez falte ressaltar é o quanto a prática budista é (ou deveria ser) interativa. O Dharma não é conhecimento enciclopédico a ser cuidadosamente reproduzido e repetido. Pelo contrário, é uma legítima tradição religiosa - e como tal, recebe dos seus adeptos pelo menos tanto quanto lhes traz de novo. O Dharma é uma doutrina viva, e portanto precisa ser a um só tempo clara e subjetiva.

Clara, porque visa a trazer segurança e compreensão abrangente para cada praticante, e subjetiva, porque tem por meta respeitar e fazer uso construtivo das diferentes inclinações psicológicas, intelectuais e estéticas de cada um. Mesmo entre os primeiros discípulos diretos do Buddha Shakyamuni havia diferenças de ênfase e de vocação claramente documentadas, mas isso não fazia um Arahant mais meritório ou mais valioso do que outro. Trata-se apenas de formas diferentes de expressar a realização interior. Da mesma forma, os cânones falam de vários Buddhas e Bodisatvas e mostram notável desinteresse em esclarecer quais seriam os "melhores". Não é difícil perceber o motivo: a realização espiritual não é uma substância que possa ser convenientemente comparada com outras quantidades da mesma substância. Mais acurado seria compará-la a uma perícia ou habilidade dinâmica. De fato, o caminho é por vezes descrito como cultivo de meios hábeis, e os mais hábeis artesões são os que apresentam maior criatividade e maior repertório.


Para uma análise criteriosa e informativa da variedade e afinidades das escolas budistas, queira por favor conferir o texto "A Que Escola Pertenço", por Ricardo Sasaki.


Brasília, 22 ago 2005 - Luis Olavo Dantas

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