Introduz o conceito de Escolha Maior (Ultimate Choice), uma escolha que não envolve apenas cursos de ação, mas também o compromisso com algum conjunto de valores. Para os fins deste livro, consideramos quase exclusivamente Escolhas Maiores que decidem entre valorizar a Ética ou valorizar o benefício próprio (mais adiante se questiona se essa escolha é necessária).
Escolhas Maiores exigem certa coragem, e frequentemente são tomadas inconscientemente, não raro por meio da simples manutenção de expectativas, metas e hábitos de conduta já familiares. Uma das principais Escolhas Maiores para todos nós é qual o tipo de vida que queremos ter. A despeito de tendências culturais relativamente recentes, estamos convictos de que uma Escolha Maior voltada a uma vida ética, um vida na qual nos identificamos com objetivos que transcendem nosso bem-estar pessoal, é a melhor e até mesmo a única que faz verdadeiro sentido. No fim das contas, é também a que melhor atende aos nossos próprios interesses pessoais.
Este capítulo argumenta que o elevado individualismo da cultura atual (principalmente nos Estados Unidos) não é apenas deselegante, mas também completamente autodestrutiva, tanto no nível social quanto no ecológico.
Este capítulo mostra que um modelo econômico voltado a simplesmente adquirir e consumir cada vez mais pode certamente ser sedutor, mas não tem como ser mantido por muito tempo sem causar danos irreversíveis e cumulativos. Ainda por cima, não é capaz de nos trazer verdadeira satisfação, mesmo em condições ideais.
Examina tendências históricas e religiosas a respeito da aquisição de bens materiais, com destaque para a idéia (infundada) de que a ganância das elites econômicas acaba necessariamente por melhorar a qualidade de vida de todas as camadas da população. Foi uma idéia muito prestigiada durante os mandatos de Ronald Reagan nos EUA da década de 1980, mas os eventos posteriores a mostraram falha e enganosa.
Expõe e contesta a popular idéia de que o ser humano é programado geneticamente para ser individualista e egoísta. Essa contestação se estende por todo o restante do livro, mas neste capítulo já examinamos exemplos da predisposição natural (não apenas nos seres humanos) a zelar pela prole, pelos parentes mais distantes e pelos grupos sociais e culturais dos quais fazemos parte.
Examina os contrastes entre as culturas ocidentais modernas e a cultura japonesa e mostra que esta ilustra um conjunto de valores voltado ao bem-estar do grupo social, em vez do bem-estar do indivíduo.
Mostra através dos exemplos históricos dos soldados inimigos da Primeira Guerra Mundial, e dos refugiados da Ilha de Tristão da Cunha que uma mentalidade de genuína cooperação é possível e benéfica em situações reais e concretas, até mesmo sob condições extremas.
Em seguida faz referência às pesquisas de Robert Axelrod sobre o Dilema do Prisioneiro, para propor cinco diretrizes práticas para o cultivo de situações éticas e mutuamente benéficas (inspiradas pelo algoritmo "Tit for Tat" / "Olho por Olho"):
Esteja inicialmente pronto para cooperar e se envolver em relacionamentos de compromisso duradouro.
Beneficie quem te ajuda e castigue quem te prejudica, para que a cooperação continuada seja a melhor alternativa para todos.
Seja simples e transparente em suas estratégias de vida, para que os outros saibam o que esperar de você e se sintam encorajados a escolher estratégias complementares.
Saiba perdoar de forma realista, sem ficar preso a padrões de ressentimento mútuo que impedem mudanças positivas.
Não seja invejoso e não deixe de embarcar em projetos que lhe sejam vantajosos apenas porque algum outro vai se beneficiar mais ainda.
Pleno de exemplos concretos, este capítulo mostra que fazer Escolhas Maiores de valor ético não é um sacrifício do qual apenas alguns poucos dão conta, e sim um caminho acessível a todos nós e que cria a sua própria base de sustentação motivacional.
Mostra que a ética não deve ser confundida com normas de conduta; Ética tem necessariamente de apresentar um valor prático e a intenção de ser a postura mais lógica e benéfica para todas as pessoas envolvidas em cada situação.
Em seguida este capítulo dedica algumas páginas à análise da idéia de que homens e mulheres tenham perspectivas éticas distintas, chegando à (cautelosa) conclusão de que o sexo feminino pode ser mais apto do que o masculino a pensar em termos abstratos e globais.
Ainda neste capítulo, são analisados dois modelos contrastantes de Ética - o Cristão, que se orienta pela promessa de prêmios e castigos eternos em uma outra vida, e o Kantiano, que exige completo distanciamento emocional em nossas atitudes e vê a Ética como uma obrigação que poucos conseguem cumprir. Singer reconhece que a adoção de uma ética kantiana pode ser útil para manter uma cultura unida e estável, mas acaba por rejeitá-la porque vê nela um beco sem saída que impede a verdadeira internalização de valores morais. Kant não nos dá um motivo para querermos cultivar virtude que não seja a satisfação de cumprir com um senso impessoal de obrigação; Singer considera essa motivação excessivamente vaga e divorciada da busca cotidiana por satisfação pessoal, o que traz sérios riscos práticos.
Como alternativa, propõe uma ética na qual a satisfação pessoal é sustentada pelo compromisso com o bem-estar da comunidade maior e alimentada pelas inclinações sociais e afetivas que o indivíduo já tenha inclinação prévia a expressar.
Recorrendo ao mito de Sísifo, Singer ilustra duas propostas distintas de fundamentação da ética - uma puramente pessoal, subjetiva, e outra que busca sustentação em metas objetivamente significativas, que transcendam aos interesses estritamente pessoais.
Valendo-se de exemplos, mostra então que a ética estritamente pessoal é invariavelmente frustrante, enquanto que a ética transpessoal pode trazer verdadeira satisfação duradoura, mesmo diante de adversidades sérias.
Neste capítulo final, Singer mostra que através da razão, da capacidade de empatia abrangente e do reconhecimento de que os desejos e necessidades das outras pessoas são exatamente tão reais quanto os nossos próprios é possível cultivar um estilo pessoal de vida que nos torne a um só tempo mais cientes das adversidades da existência e também menos incomodados por elas; que esse estilo de vida pode trazer satisfação pessoal sólida e duradoura devido a sua natureza ousada e expansiva; e que a formação de uma massa crítica de pessoas com essa perspectiva pode e deve trazer mudanças reais e significativas na sociedade, à medida que nossas prioridades mudam.
Brasília, 18 nov 2005 - Luis Olavo Dantas. Este texto está no domínio público e pode ser usado livremente para quaisquer fins. No entanto, a inclusão do endereço desta página ou de um link para a mesma (http://www.dantas.com/budismo/hawtl.htm) é encorajada e apreciada.